terça-feira, 12 de novembro de 2013

Verão de São Martinho

Regressei hoje de manhã da aldeia dos meus avós, onde fui passar o São Martinho.
Ontem, saí o mais depressa que pude da confusão da cidade, apanhei o comboio das 18h até chegar ao meu destino. Saí na última estação e percorri o caminho até casa a pé - como é costume sempre que vou lá
Atravessei a aldeia, ouvindo simplesmente o som das minhas botas nas pedras da calçada, fui ter à praça central que naquele momento se encontrava vazia, apenas iluminada com os candeeiros de rua. Coisa rara porque durante o dia aquela praça que se encontrava silenciosa ganha vida - é onde se encontra a Igreja, a mercearia da Dona Rita, o café central, a padaria da Dona Amélia e a sapataria do senhor Joaquim. É o local de encontro entre todas as pessoas - as crianças jogam ao peão junto da fonte, as senhoras partilham as cusquices - como já é hábito nas mulheres - e os senhores, leem o jornal ou jogam à sueca enquanto bebem a bica. 

 

Segui o meu caminho. Estava a arrefecer cada vez mais, sentia que as minhas mãos frias precisavam de um lume quentinho, estava anciosa por chegar a casa. 
Avistei ao longe a casa de madeira - com as janelas iluminadas e o fumo a sair pela chaminé. Empurrei o pesado portão de ferro, corri pelo jardim - sempre com cuidado para não pisar nenhuma flor - atravessei a ponde por onde passava o riacho e entrei em casa; cumprimentei toda a minha família e sentamo-nos à mesa para o jantar. O melhor ainda estava para vir! E assim foi. 
Ao fim de jantarmos, viemos todos para as traseiras da casa - local habitual para se assar as castanhas.


 As castanhas estavam prontas para ser assadas, foram apanhadas ainda dentro dos ouriços  pelo meu avô, de manhãzinha; a minha avó tratou de lhes dar o famoso corte e de lhes por o sal - da maneira que só ela sabe. O meu pai assou as castanhas de uma maneira tradicional, usando a caruma dos pinheiros. No final, descascamos as castanhas bem quentinhas, capazes de aquecer os nossos dedos gelados. Comemos, bebemos e contamos histórias, e cantamos ao som da viola. 
Só ontem compreendi o verdadeiro significado da famosa lenda de São Martinho - sem dúvida, o melhor magusto.

mariajoãoguedescastanheira